domingo, 11 de janeiro de 2009

Leitura (in)dispensável

Queria ser florista, mas acabei estudando Medicina. Já cantei, escrevi, recitei e tinha tanto prazer nisso que vou voltar a fazer tudo de novo, um dia. Li 'O Pequeno Príncipe', 'Pollyana', 'Fernão Capelo Gaivota' e acreditei em quase tudo o que estava ali. Não entendi nada de 'O Pequeno Príncipe', até que o li de novo, aos 18 anos, e me emocionei de forma inesquecível.

Quando era criança, quis casar com o Koopa, do Super Mario. Achava que ele tinha bom gosto pra decoração e música e achava ele muito masculino, também. Não é todo dia que se encontra uma pessoa que tivesse querido se casar com um desenho animado, mas deve haver milhares por aí. Tenho a fantasia de que o Caio Fernando de Abreu gosta de mim, de tanto que me conhece e escreve coisas minhas, por aí. A Clarice também. E, nesses momentos egocêntricos, em um de-vez-em-quando bem recorrente, também penso que Chico Buarque pode ter escrito algo pensando em mim.

Já fui marcante pra algumas pessoas. Muita gente me diz que eu sou engraçada. E eu dou risada de mim com freqüência. Já desaprendi a fazer coisas nas quais eu era realmente boa e essa é uma das minhas maiores mágoas. Curioso que muito pouca gente tenha me visto chorando, até hoje. Mas choro muito em filmes, noticiários, festas de família e inauguração de supermercado. Canto alto, quando ando de moto sozinha. Canto no chuveiro. Canto com vozinha engraçada, quando estou feliz demais e canto mal. Mas pretendo reaprender a cantar, também.

Minha letra é a mais linda do mundo. Fico feliz por saber nadar desde os quatro anos. Sei cozinhar alguma coisa, digitar com dois dedos, andar de bicicleta e de patins, andar de salto alto e fazer três tipos de dobraduras. Quero aprender a remar direito e a jogar War.

Já entendi perfeitamente o porquê de algumas expressões: 'desejo ardente', 'rios de lágrimas', 'coração apertado', 'ficar no vácuo', 'ver estrelas', 'querer que se abra um buraco no chão'. Nunca entendi por que, na Bahia, quando se fala que alguma coisa é malfeita, mal planejada, diz-se que é um 'cacete armado'.

Tenho aprendido a valorizar o que de fato importa. Tenho aprendido que tem coisas que são pra sempre, outras que passam. Entendo que ser feliz é destino e obrigação. Estou superando a incapacidade de ouvir ‘não’. Mentira. Mas é o meu projeto de vida.

Meus pais são as pessoas mais incríveis que eu já conheci. Vai ver, por isso resolveram se casar tão novinhos, pra aproveitarem mais tempo juntos. Desde que passei da fase criança, de comer balas de frutas, pras balas de adulto de menta, algo se perdeu. Por isso, em tentativa de resgate, gosto de balas macias e coloridas e de chocolate e que não sejam ardidas.

Gosto de ter cabelo comprido, personalidade forte, nariz pequenininho, pinta no rosto e até uns traços fisionômicos que surgem quando eu tou indiferente, não nego. Só que falta paciência, dentes mais brancos, boa vontade, pernas mais grossas, simpatia, essas coisas. Pequenos detalhes.

Eu preciso rir até meu estômago doer, sorrir até com os cabelos, porque a alegria é demais pra ser contida. Gosto das coisas da forma mais intensa, daquele jeito que (quase) machuca. Que dá vontade de comer de colher, com as mãos, de lambuzar os dedos.

Fiz coisas que odiei. Muitas. Aprendi a deixá-las no passado e a não repeti-las. Tenho sido desorganizada, crítica, curiosa e indisciplinada. Agendamentos são um problema, quase como se existissem para ser furados. Aulas e horários também. E acho que enrolar a obrigação de estudar ocupa todo o meu tempo livre. Tenho os melhores pais do mundo, o irmão mais irmão, os melhores amigos, o namorado dos sonhos e sou muito feliz, obrigada.

Amo demais, penso demais, tramo mais ainda. Coleciono fotos, músicas, bilhetes, cartas, histórias mal resolvidas, palavras, rascunhos, palavrões, caixas de chicletes, promessas de mudanças. Mas estou ciente do que faço, e faço por escolha. Eu podia me curar e ser uma pessoa morna e seca. Mas descobri que não quero. Não quero de jeito nenhum.

3 comentários:

  1. Então, sempre me perguntava como alguém que escreve como você poderia ainda não ter um blog, escreve tão bem, mas tão bem, que não precisa de aprovação e critíca, por isso eu não sabia. Amei, porque há algumas pessoas que gosto do jeito de escrever, e você é uma delas. E não é confetes não! É verdade. Quem me conhece sabe.
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  2. Hellen, ler o que você escreveu aqui foi tão gostoso! Mais do que confetes. :)

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